A Depressão na Perspectiva da Fenomenologia Existencial

 A Fenomenologia Existencial propõe um olhar diferente sobre a depressão. Em vez de tratá-la apenas como um distúrbio químico ou um conjunto de sintomas, essa abordagem convida a compreender o sofrimento a partir da experiência vivida da pessoa. O foco não está em rotular ou consertar, mas em escutar profundamente: como essa pessoa está existindo no mundo? O que sua dor quer comunicar?

Para essa abordagem, a depressão pode ser um modo de ser que revela uma ruptura no sentido da existência. Não se trata de fraqueza ou falta de força de vontade, mas de um estado em que a pessoa sente que perdeu o chão do mundo, o contato com seus desejos, o vínculo com aquilo que dá cor à vida.

Depressão como desligamento do sentido

Pense em alguém que, aos poucos, deixou de fazer aquilo que gostava. Uma professora, por exemplo, que sempre se sentiu realizada em sala de aula, mas que hoje acorda sem energia, sem ânimo e com um peso existencial constante. A rotina segue, mas sem sentido.

Na visão fenomenológica, o que está em jogo não é apenas um estado de tristeza, mas a vivência de um esvaziamento do ser. A pessoa não apenas está triste — ela se sente deslocada da própria vida.

Depressão e o afastamento de si mesmo

Outro exemplo: um jovem adulto que seguiu a carreira que os pais idealizaram. Conquistou status, estabilidade, mas não consegue sentir alegria. Sente-se vazio, mesmo “tendo tudo”. A Fenomenologia Existencial interpreta essa sensação como um sinal de que ele está vivendo um projeto que não é seu. A depressão aqui surge como um grito silencioso de um “eu” esquecido.

Essa abordagem entende que há sofrimento quando deixamos de nos reconhecer em nossas escolhas, quando nossa existência se torna apenas sobrevivência. E nesse espaço, a depressão não é uma inimiga, mas uma manifestação legítima da nossa condição humana.

A busca de sentido segundo Viktor Frankl

A reflexão existencial sobre a depressão se aproxima da teoria do psiquiatra austríaco Viktor Frankl, criador da Logoterapia. Sobrevivente dos campos de concentração, Frankl afirmou que o ser humano pode suportar quase qualquer sofrimento, desde que consiga encontrar um sentido para ele. Para ele, a falta de sentido existencial — aquilo que chamou de “vazio existencial” — está na raiz de muitos sofrimentos psíquicos, incluindo a depressão.

Frankl não vê o sentido como algo abstrato ou fixo. Ele pode ser encontrado nos pequenos gestos cotidianos, no amor por alguém, no compromisso com uma causa ou até mesmo na forma como escolhemos enfrentar a dor. Mesmo nas circunstâncias mais difíceis, ainda há liberdade para atribuir significado à experiência.

Essa visão amplia o olhar terapêutico: não se trata de tirar a dor, mas de ajudá-la a falar — e, quem sabe, ressignificá-la. Quando uma pessoa consegue compreender o que está por trás do seu sofrimento, ela pode dar novos passos, fazer escolhas mais autênticas e recuperar a conexão com aquilo que a faz viver.



Escutar para ressignificar

O caminho, portanto, não é apressar a cura ou oferecer respostas prontas. É preciso criar um espaço onde a pessoa possa colocar em palavras aquilo que sente, sem julgamentos, e reconstruir, pouco a pouco, uma nova relação consigo e com o mundo.

A escuta fenomenológica busca acolher o sofrimento como ele é vivido, sem reduzi-lo a diagnósticos ou categorias. Ao nomear a dor, a pessoa começa a retomar sua própria narrativa, recuperando o sentido e a possibilidade de se reinventar.


Casa Azul Psicologia: Ser & Viver
Um espaço de escuta, cuidado e reconstrução de sentidos.

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