Três Olhares Sobre a Mente: Fenomenologia, TCC e Psicanálise

 A psicologia é uma ciência complexa, rica em teorias e práticas diversas. Entre as abordagens mais conhecidas estão a Fenomenologia, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Psicanálise. Cada uma delas enxerga o ser humano por lentes diferentes, propõe caminhos únicos para a escuta e a intervenção, e carrega consigo um raciocínio próprio sobre o sofrimento psíquico.



Abordagem Fenomenológica: a experiência como ela é

A psicologia fenomenológica, inspirada por filósofos como Husserl e Heidegger, busca compreender o indivíduo a partir de sua experiência vivida, sem julgamentos prévios. O terapeuta não tenta “encaixar” o paciente em categorias, mas o escuta com abertura radical, permitindo que o sentido surja do próprio relato.

Exemplo prático:
Ana chegou ao consultório dizendo sentir “um vazio que não tem nome”. Ao invés de interpretar ou rotular o que sente, o terapeuta fenomenológico a convida a descrever esse vazio, como ele aparece no corpo, no dia a dia, nos pensamentos. Aos poucos, Ana percebe que esse vazio está ligado a uma desconexão com o que realmente deseja — e não com algo que “precisa ser consertado”.

Raciocínio por trás:
Cada pessoa é um ser-em-situação. O sofrimento é entendido como um estranhamento entre a pessoa e sua própria existência. O processo terapêutico busca restaurar o contato com o mundo vivido.


TCC: reprogramando pensamentos e comportamentos

A Terapia Cognitivo-Comportamental parte da ideia de que nossos pensamentos influenciam nossas emoções e ações. O objetivo é identificar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento, testá-los e substituí-los por alternativas mais saudáveis.

Exemplo prático:
João tem medo excessivo de falar em público. Através da TCC, ele começa a identificar pensamentos automáticos como “vou ser ridicularizado” e aprende a questioná-los com base em evidências reais. Além disso, pratica pequenas exposições graduais até conseguir apresentar-se com mais segurança.

Raciocínio por trás:
As distorções cognitivas afetam o modo como interpretamos o mundo. Modificando pensamentos e comportamentos, é possível reduzir o sofrimento psicológico de forma mais estruturada e objetiva.


Psicanálise: mergulhando no inconsciente

A Psicanálise, criada por Freud e desenvolvida por muitos outros teóricos, propõe que grande parte do que sentimos ou fazemos está ligado a conteúdos inconscientes. A escuta é aprofundada, e o discurso do paciente é investigado em suas repetições, lapsos e silêncios.

Exemplo prático:
Marcos sempre termina relacionamentos quando começa a se sentir próximo demais da parceira. Na análise, ele percebe que esse padrão está relacionado à sua história infantil, marcada por perdas e ausências. Ao compreender essa repetição inconsciente, ele começa a se posicionar de forma diferente em seus vínculos afetivos.

Raciocínio por trás:
O sujeito não é totalmente senhor de si. Desejos reprimidos, traumas e conflitos inconscientes moldam o comportamento. O trabalho analítico visa trazer à consciência o que está recalcado, promovendo transformação.


Uma não exclui a outra

As abordagens não competem entre si: elas oferecem diferentes formas de enxergar o sofrimento humano. Algumas pessoas se identificam mais com uma escuta acolhedora e não-diretiva; outras com ferramentas estruturadas para mudança de hábitos; e outras com a proposta de uma escuta mais profunda e interpretativa. A escolha da abordagem ideal depende da história, das necessidades e dos objetivos de cada pessoa.


Casa Azul Psicologia: Ser & Viver
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