Setembro Amarelo: Escutar a dor que existe
Falar sobre o suicídio é falar sobre o sofrimento humano em sua forma mais íntima e silenciosa. Não se trata de estatísticas ou de protocolos, mas da dor concreta de existir. O suicídio não é, essencialmente, um desejo de morte, mas muitas vezes uma tentativa de escapar daquilo que, naquele momento, parece insuportável. É a última tentativa de se livrar de uma angústia que o mundo ao redor muitas vezes não consegue ou não sabe nomear.
Na abordagem fenomenológico-existencial, não perguntamos “o que você tem?”, mas “como é estar sendo você, neste momento?”. Porque a dor psíquica, antes de ser classificada, precisa ser acolhida. Cada ser humano é único em sua história, em sua maneira de estar-no-mundo. E é justamente por isso que qualquer gesto de sofrimento deve ser olhado com respeito, e não com pressa. O que para alguns é pequeno, para outros pode ser o abismo.
Setembro Amarelo nos convida a refletir não apenas sobre o suicídio, mas sobre o vazio de sentido que muitas pessoas enfrentam. Viktor Frankl, psiquiatra austríaco que sobreviveu aos campos de concentração nazistas, dizia que a principal dor do ser humano não é o sofrimento em si, mas a falta de sentido nele. Em um mundo cada vez mais rápido, técnico e produtivo, muitos se veem desconectados de si, dos outros, e da própria vida. Sentem-se sozinhos, mesmo rodeados de gente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil mortes anuais. A maioria dessas pessoas não quer, de fato, morrer. Quer parar de sofrer. Quer ser vista. Quer poder falar sem ser julgada, interrompida ou rotulada. E é aqui que a escuta fenomenológica se faz necessária: uma escuta que não reduz, não interpreta às pressas, mas que acompanha, que acolhe a existência em sua totalidade, inclusive a angústia.
Prevenir o suicídio é mais do que oferecer respostas. É estar presente. É perguntar com genuíno interesse: “Como você está?” — e estar disposto a ouvir o que vier, sem querer corrigir, sem moralizar, sem comparar com a própria dor. É abrir espaço para que o outro possa se encontrar com sua própria verdade, por mais difícil que ela seja. É reconhecer que o sofrimento psíquico não é fraqueza — é parte da condição humana.
A campanha do Setembro Amarelo precisa ir além da estética das redes sociais e alcançar o campo da vivência concreta. O sofrimento emocional não acontece só em setembro, e não se resolve com frases prontas. Ele requer presença real, vínculos, escuta, cuidado contínuo.
Falar sobre suicídio, sob uma perspectiva existencial, é reafirmar o valor da vida em sua inteireza, incluindo as dúvidas, os medos, as dores. É lembrar que todo ser humano é mais do que seus sintomas, mais do que seu diagnóstico, mais do que sua dor. É resgatar a dignidade de ser — e de ser escutado.
Que neste Setembro Amarelo e em todos os outros dias, tenhamos coragem de estar com o outro em sua dor, sem querer explicá-la ou apagar — mas simplesmente estar. Porque às vezes, estar junto é tudo o que alguém precisa para continuar.
Se você ou alguém que você ama está atravessando um momento difícil, procure ajuda. O sofrimento não precisa ser enfrentado sozinho.
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Clínica Casa Azul Psicologia: Ser & Viver
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Estamos aqui para escutar — com respeito, presença e humanidade.