Dependência Emocional sob a Perspectiva da Fenomenologia Existencial

 A fenomenologia existencial propõe compreender o ser humano a partir da sua experiência vivida, destacando como nos relacionamos com o mundo e com nós mesmos. Diferentemente de abordagens que focam apenas no comportamento ou no pensamento, essa visão enfatiza o sentido que damos à existência, a liberdade e a responsabilidade que temos sobre nossas escolhas.

Quando pensamos na dependência emocional por essa ótica, percebemos que ela revela uma dificuldade profunda em assumir a própria existência como um projeto autônomo. A pessoa dependente emocionalmente busca no outro não só companhia, mas a validação do seu próprio ser, a sensação de que existe, de que é valiosa. Essa dependência acaba por obscurecer a liberdade individual, levando a um apego excessivo que pode sufocar e limitar o desenvolvimento pessoal.

Um ponto fundamental da fenomenologia existencial é o conceito de ser-no-mundo, que significa que não existimos isolados, mas sempre em relação. Entretanto, essa relação deve ser equilibrada, respeitando a autonomia de cada um. Na dependência emocional, essa relação se torna desequilibrada, porque o sentido do próprio ser fica preso à presença e aprovação do outro. O indivíduo perde a autenticidade, o que Sartre chamaria de “má-fé”, ao negar sua liberdade para fugir da angústia que ela traz.

Essa angústia, no entanto, é parte inevitável da existência humana. Encará-la é fundamental para que se construa uma vida autêntica e significativa. Na dependência emocional, essa angústia é substituída por um medo da solidão e do vazio interno, o que leva a pessoa a manter relações que podem ser nocivas, apenas para não se confrontar com esse vazio.

Exemplos práticos

  • Joana, ao terminar um relacionamento, sente que perdeu seu chão. Sua autoestima e alegria estão tão ligadas ao parceiro que ela não consegue se reconhecer fora da relação, ficando ansiosa e deprimida.

  • Carlos prefere manter uma relação marcada por constantes conflitos, pois teme o isolamento e a responsabilidade de decidir sozinho sobre sua vida, mesmo sabendo que essa relação lhe faz mal.

Estratégias terapêuticas existenciais para a dependência emocional

Na psicoterapia com base na fenomenologia existencial, o processo envolve:

  1. Tomar consciência da própria liberdade: O paciente é convidado a perceber que tem o poder de escolher suas atitudes e caminhos, mesmo que isso gere angústia.

  2. Explorar a experiência da angústia e da solidão: Em vez de fugir, o terapeuta ajuda o paciente a acolher esses sentimentos como parte da condição humana.

  3. Buscar autenticidade: Estimular o indivíduo a reconhecer suas necessidades, desejos e valores próprios, independentemente das expectativas externas.

  4. Construir sentido a partir da própria existência: O paciente é encorajado a se tornar autor de sua vida, encontrando significado em suas escolhas e relações.

  5. Desenvolver a autocompaixão: Aceitar as próprias limitações e imperfeições, reduzindo a necessidade de aprovação externa.


Essa abordagem ajuda o paciente a romper com a dependência afetiva, despertando para uma existência mais livre, responsável e genuína. Assim, a relação com o outro deixa de ser um amparo exclusivo para se tornar uma escolha consciente, enriquecedora, mas nunca única ou imprescindível para a própria existência.




Na Casa Azul Psicologia, acreditamos que viver de forma autêntica é um processo de coragem e construção contínua.
Se você deseja compreender suas relações de maneira mais profunda e cultivar uma existência mais livre e consciente, estamos aqui para caminhar ao seu lado.

Casa Azul Psicologia – Ser & Viver

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