“A curiosa parábola é que, quando me aceito como sou, então posso mudar.” Carl R. Rogers

 “A curiosa parábola é que, quando me aceito como sou, então posso mudar.”

Carl R. Rogers, em Tornar-se Pessoa (On Becoming a Person, 1961)

Essa frase expressa uma das ideias centrais da abordagem centrada na pessoa: a aceitação incondicional de si mesmo é o ponto de partida para o crescimento pessoal e psicológico.

Rogers percebeu que muitas pessoas vivem em conflito com partes de si mesmas, tentando reprimir emoções ou negar aspectos que julgam inaceitáveis. No entanto, a mudança real não acontece pela negação, mas pela autoaceitação genuína.

Ao aceitar quem somos — com falhas, medos e limitações — criamos um espaço interno de segurança e autenticidade, o que permite que a mudança ocorra de forma orgânica e não forçada.

Em resumo: a aceitação é a base da transformação.

Exemplo prático: dificuldade de dizer "não"

OBS: A personagem da história a seguir é fictícia, ou seja, uma história inventada para ilustração.

Amanda é uma pessoa que sempre diz “sim” para tudo e todos, mesmo quando está cansada, sobrecarregada ou desconfortável. Ela aceita convites, assume tarefas extras no trabalho e ajuda os outros constantemente — mesmo à custa da própria saúde mental.

Internamente, Amanda se sente exausta e ressentida, mas também muito culpada quando pensa em dizer “não”. Ela acredita que, se não for “boa” o tempo todo, as pessoas vão se afastar.

No início, Amanda tenta mudar forçando-se a ser mais “dura”, mas isso gera ansiedade. Ela se cobra:

“Eu preciso parar de ser boba. Eu sou fraca.”

Essa autocrítica impede a mudança real.

Ao longo de um processo terapêutico com base na abordagem de Carl Rogers, Amanda começa a perceber:

“Minha dificuldade em dizer não vem do medo de rejeição — e tudo bem. Eu aprendi isso ao longo da vida. Isso faz parte de mim.”

Ela não muda da noite para o dia, mas ao aceitar com compaixão essa parte de si mesma, começa a experimentar dizer “não” em pequenas situações — sem tanta culpa, porque não está mais lutando contra quem ela é, e sim crescendo a partir disso.


Quem foi Carl Rogers (1902–1987) ?

Psicólogo norte-americano | Fundador da Abordagem Centrada na Pessoa

Carl Ransom Rogers nasceu em 8 de janeiro de 1902, em Oak Park, Illinois (EUA), em uma família protestante de valores rígidos e moral conservadora. Teve uma educação disciplinada e muito voltada à religião e ao trabalho. Na juventude, era introspectivo e estudioso.

Inicialmente, Rogers começou a estudar agronomia e depois se transferiu para teologia, pensando em se tornar pastor. No entanto, durante seus estudos no Union Theological Seminary, passou por uma crise pessoal e espiritual que o levou a se interessar mais pela psicologia e pelo comportamento humano.

Formou-se em psicologia clínica pela Universidade de Columbia, onde teve contato com ideias mais científicas e empíricas sobre o desenvolvimento humano.

Carl Rogers desenvolveu a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), uma das vertentes mais importantes da psicologia humanista, ao lado de Abraham Maslow.

Suas ideias foram revolucionárias na época, porque se diferenciava da psicanálise e do behaviorismo, propondo uma visão mais positiva, empática e humanizada do ser humano. Para ele, cada pessoa tem uma tendência inata à autorrelação e ao crescimento, desde que esteja em um ambiente de aceitação e empatia.

Ele aplicou essa abordagem não apenas na clínica, mas também na educação, resolução de conflitos, trabalho comunitário e até negociações de paz.

Rogers foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com resolução de conflitos internacionais, inclusive em áreas de guerra. Faleceu em 4 de fevereiro de 1987, aos 85 anos, deixando um legado profundo na psicologia, educação e relações humanas.

Carl Rogers acreditava que, quando somos profundamente escutados e aceitos, podemos nos tornar plenamente quem somos.


Na Casa Azul, acreditamos que o processo terapêutico não é sobre consertar quem somos, mas sobre acolher com respeito cada parte de nossa história — mesmo aquelas que parecem difíceis de aceitar.

É nesse espaço de escuta, presença e autenticidade que a mudança floresce, não como imposição, mas como consequência natural de sermos verdadeiramente vistos.


💙 Que possamos, como Rogers propôs, nos aceitar para então nos transformar.

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Fontes usadas:

ROGERS, Carl R.
Tornar-se Pessoa: um terapeuta descobre o seu modo de ser.
Tradução de Maria da Graça Jacques. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
→ Obra autobiográfica e central para compreender sua visão de ser humano, terapia e vida pessoal.

KIRSCHENBAUM, Howard.
Carl Rogers: The Quiet Revolutionary – An Oral Biography.
Boston: University of Rochester Press, 2009.
→ Uma biografia oral detalhada, baseada em entrevistas e arquivos pessoais de Rogers.

HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner.
Teorias da Personalidade.
Porto Alegre: Artmed, diversas edições.
→ Contém um capítulo sobre Rogers, com um resumo da abordagem e dados biográficos essenciais.

ZIMBARDO, Philip G.; GERRIG, Richard J.
Psicologia Geral. São Paulo: Pearson, várias edições.
→ Inclui informações didáticas e atualizadas sobre o papel de Rogers na psicologia humanista.

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